Quatro estudos sobre Marília
I
Tem hora que ela é chama
quando chama a si o excesso
vivo com que se inflama
em metamorfose de se dar
como quem quer o efêmero
- A brasa em si que é chama-
No flor desabrochada a flor da pele
no desejo em brasa que inflama
a chama efêmera além do corpo
que desmancha-se em segredos
que não chegam à cama
No desejar dar-se de si mesma
ao calor da brasa, enfim desejo em chamas.
E sendo assim, toda em brasa
talvez ela busque no efêmero
a marca queimada do instante vivo
com que se desfaz em versos, luz e chamas
que, por mais que o tempo passe...
nunca saem do nosso corpo
II
Tem hora que ela é ar
quando em movimento seus gestos
acumulam um caráter de desordem
que sem explicação torna-se repentino
talvez até sem lógica... no entanto
esse caráter brusco com que se
manifesta toda em sentidos
é a maneira com que encontrou
de achar o ponto de equilíbrio
entre o dar-se ao passageiro
e existir entre o vasto de ser infinita
no universo que a cerca
No entanto esse ser variado tem suas conseqüencias
O de não se dar conta na hora de parar
e a tristeza de não ser vista
quando se quer tentar algo novo
III
D'outras vezes ela é terra
na rigidez com que a caracteriza
em toda sua versatilidade
Ela fecha dentro de si segredos
baixo um mistério recoberto de relevos
e depressões variadas que vão e vem
e em todos os lugares uma forma nova
toma conta de todo seu ser.
Daí parecer metamorfose o que
apenas é uma faceta da vasta identidade
que ronda seu jeito...
Mas ainda que essa identidade apresente
muitas facetas- infindas- d'uma coisa
se pode ter certeza: o todo é ainda mais grandioso
Apesar dos pesares...
IV
Quando ela está em desejos de profundidade
é provável vê-la em estado hídrico- de água
no intenso de ter em si o profundo
e o palpável- às vezes nem tanto-
com que se mergulha num sonho criado
com partículas de desejos infindos
que muitas vezes chegam a afogar
e submergir o todo pela parte almejada
Esse vir-a-ser que se nota em Marília
faz dos seus sonhos uma parte de um todo
complexo... que a alma feminina
tem em si na hora que concebe seus
primeiros desejos... profundos como o oceano
mas não tão intensos quanto as ondas que se levantam
no universo de seus anseios