Sem nada dizer...
Cresceu em francês,
sua língua-metade,
ouvindo Piaff na vila, no morro.
Fez-se melodia, mulher e vontade
à margem do livro, que sempre levou
na fila, no bar, na missa, no trem
grudado consigo.
...
Mirou-se na capa,
reconheceu a autoria
do poema, o significado.
Palavras recontadas,
versos tangidos ao meio,
um velho senão do novo mundo.
Oferta em demasia, vagos cordeis,
metáforas que crescem no jardim
sem nada dizer.
Teve o sol em suas mãos, jardineiro e flor.
A autenticidade dos lírios,
brancos como devem ser
fantasmas nos becos,
seus passos em cruz,
a lavra dos dedos,
gatos no lixo de latas vazias.
Já passa das seis!
No céu vazado em luz,
nem ela, nem Ave Maria,
a implorar o silêncio cansado
de aves que voltam pra casa,
livres, em asas de nunca sofrer.
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