Ínfimo utopista
Perdeu-se a fé neste mundo
Isso fez-se em um segundo
Mas primeiro perdi a que tinha
Em mim mesmo, pouca que existia
Como crer em tanta loucura
Se vive-se uma grande tortura
Sobreviver é sempre a meta
Entrega-se a alma mais pura
Em troca de qualquer fortuna
Dá-se a substância mais fecunda
Deixa-se ao acaso tal rotura
Louco do invólucro roto
O que importa, se já está morto
Perdeu-se a fé e a comoção
Cada um quer tomar seu quinhão
A meta é garantir uma boa porção
Que importa a nós se para isso
Muitos outros viverão só do lixo
Em um anseio atroz de dignidade
Ao mortal dá-se a marginalidade
O homem só se perdeu
A pergunta é, se existe Deus?
Aquele que ofereceu a salvação?
O que sempre lhe estende a mão?
É o sonho da inocente criança
Pouco importa o mundo doente
O que conta é estar consciente
De que sempre haverá esperança
Sonho que ela jamais alcançará
Tua vida é aquela que nunca muda
Para alguns, poucos, até o paraíso
Para outros, inúmeros, nem o que é preciso
O homem fez sua escolha mundana
Alguns dizem que é a seleção
Para poucos viverem, muitos morrerão
Para nós, os incontáveis, é a perdição
O que falta a humanidade
É simplesmente, ser humano
A maior falta de dignidade
É dos que por certo deveriam tê-la
Ficam ao léu os desafortunados
Se a miséria parece que é a sua sina
Perdem-se rotineiramente nas esquinas
As suas vidas são tais que se cruzam
Ninguém sabe onde vai parar
A única certeza é que cessará
Mas se de todos é sempre assim
Então qual a diferença daqueles e de mim
Se vamos todos sempre ao mesmo fim
Se a nau toma um rumo deveras incerto
A tempestade pode ou não estar por perto
Mas a única certeza absoluta é a do naufrágio
Burgueses, por que então é assim que agem
Sabendo por certo que desta curta viagem
Tu Nada levarás além dos frutos, se plantastes
E esses todos são etéreos, tais tua essência
Viva esta utopia, deixa de lado a demência
Vai integro aprender a esgrimir o teu cajado
Procura os mais simples para viver lado a lado
Semeia a terra e abandonas a tua indolência.
Brasília - DF, 05 de agosto de 2009.