Brasileiro
Brasileiro
por inteiro,
vou à missa e ao terreiro
e misturo mandinga e prece
com tudo mais que me aparece
(e se Lilian soubesse
o quanto ela me acontece . . . )
Mas logo (e como demora, caramba) será Janeiro,
um novo tempo inteiro.
Deixarei de fumar e só usarei o isqueiro
para de novo queimar Roma
e extinguir o Linfoma.
E tocarei a Lira daquele louco,
pois sei, que sem tu, como sou pouco.
E para te conquistar, logo pela manhã,
usarei meu novo talismã,
feito por um ex Xamã
da terra de Irapuã,
no reino de Tupã.
E para curar-me da febre malsã,
pedirei a benção à Iansã.
Quem sabe ela também não dê jeito
nessa saudade que me rasga o peito
e me deixa desfeito.
Bobo bolo. Sem confeito.
Mas, por ora, só o agora.
Essa pressa e essa demora.
E esse vagar por aí afora.
Pois tudo, dizem, tem sua hora
e a tua há de chegar.
Mas enquanto não chega,
dê-me uma cocada da mãe negra
e estende teu carinho
para que eu acerte o caminho,
não me perca noutro escaninho
e me recolha na calidez de teu ninho.
E assim, que assim seja,
minha doce embriaguês de cereja.
Que em tudo se veja
teu reflexo no lago
e na paixão que te trago.