Senhores do poder
Andando pelas ruas de Brasília
Somente vê-se: dor, tristeza e agonia
As pessoas nem se apercebem
Mas muitas caem poucas se erguem
A ilusão do dinheiro fácil e abundante
Domina essa cidade profana
Todos querem sua parcela
Poucos a conseguem
Mas enquanto muitos caem
Ainda poucos são os que se erguem
Enquanto isso vou em frente, sem descanso
Também não me importo com quem me cerca
A filosofia dessa cidade é mesmo essa
Filosofia da terra deserta
Filosofia do eu é que me importa
Filosofia completamente morta
Nem mesmo para morrer tem-se sossego
Aqui nem sequer a isso se tem direito
Na cova, ninguém permanece sem dano
Até para meter-se debaixo da terra
Deve-se, pelo menos, ter um bom plano
Enquanto muitos caem, poucos se erguem
Esses somente são os que prosseguem
Prosseguem explorando
Colaborando para a exploração
Vilipendiando aos mais fracos
Corroborando com a corrupção
Esses que estão sempre por aí desfilando
Montados sobre sua empáfia
Os ímpios é que nos estão dominando
Denotando por aí sua vã pabulagem
Para nós, mortais, isso parece bobagem
Sobreviver, é essa a nossa única meta
Não importa se nos ferem mortalmente
Se nos aniquilam a alma imortal
Se nos envenenam com a cicuta
Continuamos sempre em nossa luta
Tentando sobreviver mais um dia que seja
Tentando sair dessa aviltante torpeza
Não se tem coragem de reclamar
Aos miseráveis resta, somente, aceitar
Por isso, poucos se erguem, enquanto muitos caem
Caem em um estado de torpor absoluto
Caem em um eterno fraquejar, em luto
Caem em mansidão, pois se deixam abater
Quando diremos: chega de viver assim, melhor morrer
Pelo menos sobra a chance de renascer
Renascer das cinzas futuras dessa sociedade profana
Renascer da vida que para a maioria sequer é humana
Dizem que esta é uma cidade bem planejada
Será que planejaram o destino dos miseráveis daqui
Ou somente se planeja que eles não teimem em existir
Mesmo estando a vista de todos que queiram ver
Melhor que eles mesmos simplesmente desistam
Percebam que estão errados em querer viver
Afinal é fácil, a que eles levam nem pode-se chamar vida
Ou alguém considera que é viver essa existência sofrida
Seria tão mais fácil se eles puramente sumissem no ar
Não é assim que esperam que a miséria deva acabar
Se já estão quase mortos de fome, mais fácil morrerem de vez
Que gente mesquinha esses miseráveis, que gente teimosa
Teimam em continuar denegrindo diariamente as ruas portentosas
Dessa cidade, quase maravilhosa, não o é por faltar a praia e o morro
Mas não as favelas, que por sinal aqui nem se houve falar
Favelas em Brasília, quem disse isso, que mentira triste
Isso, aqui, nunca existiu, e não será agora que dirão que existe
Talvez possa-se dizer no futuro, agora não é permitido
Quem se atreveria a desabonar a terra que o Brasil todo assiste
Aqui, o que vemos são somente obras faraônicas erguidas
Por grandes homens que jamais cogitaram endividar ao país
Temos prédios harmoniosos por onde escoam renhidas
Verbas milionárias que tornam nababos aos que se ergueram
Não sem pisar sobre as cabeças daqueles mesmos miseráveis
Caminhando por aqui o que se tem é uma imensa dor
De ver o descaso dispensado para a grande maioria
O desrespeito com que tratam ao pobre, ao trabalhador
Enquanto o corrupto, esse é valorizado e tratado por: "doutor"
Brasília - DF, 21 de julho de 2009.
(Doutores de Brasília)