Rasgos Urbanos
Caminho sem rumo nessa cidade antiga
Que de poeira se construiu canto pra desconhecidos
que alimenta almas andarilhas feito a minha
as quais o tempo não guardará uma mísera lembrança
Se é que há lembranças enquanto aqui ainda pertenço
Esteve nublado todos os dias de minha vida
Mas não,hoje choveu
Choveu com o milagre da morte
Como se tudo definhasse com o ruído da glória
E chove,lavando tudo que existia em mim
Chove,pra depois voltar ao nublado
Não,nunca sol
a luz ofusca a beleza das coisas
O sino da catedral me cantou uma canção
Eu que por vezes desejei se-lo
Hoje não passo de um pensamento medíocre
E as coisas belas que apreciava
Eram apenas esculturas de mau gosto feitas por artistas bêbados
Como se tudo que eu presenciasse
fosse o rabisco de um rabisco
Um sonho do sonho
Teria eu definhado toda a cidade?
Mas as pessoas sempre foram feias
Vejo-as andar por mim,enquanto a chuva se faz de verdade em meu corpo frio
Enquanto os corpos feios se movem,se beijam,se mastigam,e escarram
O velho do meu lado surpreendemente existe e se surpreende com a minha existência
Ele me oferece um cigarro,e sorrimos juntos
Feito dois abobados por um tempo que nunca fez muito sentido
Como dois moribundos que não encontram sentido nem na morte
Apenas sorrimos,com nossas cores se combinando sem que houvesse palavras
Envelheci,sem que me fosse necessário crescer
tornei-me poeira,sem me fosse necessário morrer