(Contigo pela Noite)

(Num diálogo grego

contigo pela noite)

Ifigénia

na balança

o destino pesou mais que a vida -

derramaste o sangue puro na pedra fria do altar de Ártemis condoída - o vento já não esperava a tua morte e ela se anuncia aos primeiros sinais de uma suave brisa

teu rosto pousado sob a luz pálida da tarde ensombra a beleza do dia

ouves ainda no suspiro último do desígnio

as trombetas guerreiras dos que partem

de Áulis para Tróia

erguidas as espadas do triunfo e da glória sem a dor da tua perda.

E tu

Ifigénia

vertido o sangue pelos teus seios solares deixaste as asas

crescerem

nas novas planícies da Ática dos heróis

como uma ave velando o azul escuro do mar Egeu

eras a imagem volátil em cada templo

da única religião

de um amor profundo e sensual

onde foste com o silêncio dos olhos líquidos beber a água

do manjar dos deuses do Olimpo.

Ifigénia

na balança do destino

a vida arrebatou-te numa nuvem

nesse silêncio lunar ao fim da tarde

quando a noite surge para cerzir os corpos divinos

desde a veias

ah, Ifigénia

o vento desce em colunas pelo mármore da madrugada

e tu vens

com as vestes imaculadas da brancura

deslizar pelos meus ombros o sopro etéreo dos teus lábios.

(O destino pesava mais do que a vida)