Monologo do Pai
Em pé a porta,
Olhando o inicio da estrada...
Haja saudade,
Saudade que cumprimenta,
Saudade de você as noites a chorar.
Ainda nas mãos,
Nem sabia falar,
Nem sabia andar...
Chorava, bebias e dormias.
Tão pequenina
A minha menina
Estava ali a pulsar.
Aquele fio de vida,
Pernas e braços no ar a oscilar.
A única arte,
Meu verso vivo de um amor,
Que se eternizou ao cuidar.
Relembro ainda confuso,
Meio sem jeito,
Um ser imperfeito,
Com um anjo no colo.
Nem sabia como lidar.
E assim, já era pai.
Junto com o tempo,
Sem me ver
Era o palhaço
Dos teus risos incomedidos;
O brinquedo preferido...
Fui muitas vezes o mocinho e o bandido.
Na hora dos teus medos o senhor a te acalmar.
Saudade, saudade de você...
As pernas cansadas,
Fracas e sem rumo,
Com a vista embasada,
Procurando no escuro do mundo,
Ao menos as tuas mãos para alcançar.
Não quero um som,
Sobre tudo o capital,
Quero um quintal,
Para entre um verso ou outro do sabiá,
Ao fim de qualquer tarde,
Ouvir também o teu amor de filho,
Pai, me chamar.