TELAS DA VIDA
Pintei um quadro com as tintas de minha inocência
Tons vibrantes, juventude em pincel arfante
Venho as águas salgadas de meus olhos
De amor amado, amor perdido
Lavou a tela, borrou a pintura
Pintei outra tela com as tintas da tristeza
Ainda jovem, chafurdei no preto e matizes
Meio gótico, meio louco, meio ao meio
Incendiei a cama com tocos de cigarros
Entrei e vi um quadro que não quis
Troquei de tela, fiz um quadro da boemia
Seios, ancas, água que passarinho não bebe
Mesa de bar, batucada e amigos(inimigos também)
Jorrei minha alegria pela noite vadia
Cansei da orgia, deitei e dormi
Acordei de ressaca, fui trabalhar, pintei sem vontade
Larguei a vaidade, dura realidade exposta
Cai na monotonia do dia-noite-dia
Sexo sem harmonia, cama vazia
Me enchi,explodi, joguei fora tela sem vida
Resolvi pintar a esperança tardia
Cutuquei a fera dormente, rangente, ardente;
Vulcão preguiço, mais ainda quente
Rugiu,soltou gases, lama eloqüente
Queimou a tela, queimou minha fronte
Querem saber, vou pintar a granel
Qualquer coisa que veja, me vendo
Sem formas e nem regras, sem nada
Quem quiser que veja a pintura
Quem não quiser, fique com a tela
vazia