TEMPO TERMINAL

é chegado o tempo de morrer

de abrirmos todas as nossas mãos num só segundo

para que os outros segundos ainda venham

chegou a dor de doer desatinada

sem beijo algum para cessar a seca dos lábios

o tempo é de não morrer sozinho

ainda vele em algum lugar do mundo

a lei de se unir

é tempo de olhar para todos os lados

feito folha esquecida pelo vento

não morrer de dor física nem viver parasitando

é chegado o tempo de caminhar pelas ruas nervosas

sem poder lançar um último olhar

é chegado o tempo

as gotas dos rios escorrem pela devastação total

as veredas das matas profetizam o tempo de usar

com contentamento o amor frio

nada mais vale a vida

o medo é que ainda nos mantém acesos

para que saudemos a chegada da morte

é tempo de secar as roupas

guarda-las para sempre

toda nudez será esquecidamente lembrada

tanto faz agora a vergonha

mais vale a desculpa outrora ignorada

tanto fizeram os pés e as mãos do mundo:

a humanidade usa rodas agora

é tempo de cair, rolar pela calçada

sem horizontes para salvar do destino natural

o hoje fez-se presente

machucam-se os calos dos homens

e a água de beber é igualmente desprezada

é tempo de não falar da vida

conhecer a estranha linguagem de se calar

ver os destinos unânimes projetados

num acidente final num gesto de se morrer

é tempo de entregar a alma à deus

para o corpo total receber o castigo da cova

oh não! Mas não agora!

ainda vale a percepção dos sentidos

para a morte não vir crua

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 13/08/2009
Reeditado em 19/08/2013
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