TEMPO TERMINAL
é chegado o tempo de morrer
de abrirmos todas as nossas mãos num só segundo
para que os outros segundos ainda venham
chegou a dor de doer desatinada
sem beijo algum para cessar a seca dos lábios
o tempo é de não morrer sozinho
ainda vele em algum lugar do mundo
a lei de se unir
é tempo de olhar para todos os lados
feito folha esquecida pelo vento
não morrer de dor física nem viver parasitando
é chegado o tempo de caminhar pelas ruas nervosas
sem poder lançar um último olhar
é chegado o tempo
as gotas dos rios escorrem pela devastação total
as veredas das matas profetizam o tempo de usar
com contentamento o amor frio
nada mais vale a vida
o medo é que ainda nos mantém acesos
para que saudemos a chegada da morte
é tempo de secar as roupas
guarda-las para sempre
toda nudez será esquecidamente lembrada
tanto faz agora a vergonha
mais vale a desculpa outrora ignorada
tanto fizeram os pés e as mãos do mundo:
a humanidade usa rodas agora
é tempo de cair, rolar pela calçada
sem horizontes para salvar do destino natural
o hoje fez-se presente
machucam-se os calos dos homens
e a água de beber é igualmente desprezada
é tempo de não falar da vida
conhecer a estranha linguagem de se calar
ver os destinos unânimes projetados
num acidente final num gesto de se morrer
é tempo de entregar a alma à deus
para o corpo total receber o castigo da cova
oh não! Mas não agora!
ainda vale a percepção dos sentidos
para a morte não vir crua