ERABESTIAL

minha canção oferta um minuto a mais

ao cru horizonte da guerra

olho um caminho e olho uma vida

mas nos meus olhos não há cola

colo minha meia por ter acabado a linha

suspiro na estrada por ter me faltado o argumento

um tarzan urbano assalta uma loja de conveniências

acabaram-se as medalhas

continua o jogo

sofro com a minha tosse mas sou obrigado

a pensar no escarro filosófico do mundo

ainda há alma na principal avenida

ainda vive a mão que me esmolou uma esperança

meu cansaço não atravessa a nado o rio da existência

porque seus pés calçaram um reebook sem cardaço

chora ó menina futura caduca de vinte poucos anos

seus olhos nascerão cansados por causa da velocidade do mundo

há pressa no carro do meu vizinho

há pressa na metralhadora do guarda

é preciso guardar o cenário depois do espetáculo

é preciso guardar os artistas antes de apagar as luzes do teatro

micro sentimento comendo um pedaço da minha luz

não há mais velas para iluminar o meu porão

chora ó último dos poetas e sacode a vida de ti:

começará a nascer da sua costela o poeta pronto

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 13/08/2009
Reeditado em 19/08/2013
Código do texto: T1751853
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