Sina do Jogral

Caminho sem volta

Enfrentar os fantasmas

Pensando ser forte

Provar a fraqueza

Derramado o seu sangue

Beber o veneno

Sentir ser pequeno

Num mundo imenso

Tal qual no seu berço

A Menina reza o terço

Que a mãe ensinou

Mas o mundo lá fora

Tão sem propósito

Não parece lógico

Sentir-se pequeno

Quando é imenso

A força da vida

É saber-se que a sorte

Será sempre a morte

De todos igual

De lá ninguém sai

Somente se vai

Parece voltar

Mas no mundo cruel

A sorte é o azar

Da vida sem par

Que a todos reclama

A morte é a dama

Da noite escura

Que finda na luz

Que nunca produz

Senão um poema

Parece pequeno

Na mão indecente

Que clama ser gente

Mas nunca o foi

O poeta é doente

Sofrendo na luz

A noite produz

Sua sina é viver

Na morte do outro

Da dor do inocente

A qual jamais sente

Por não mais sentir

Queria só ela, a morte

que finda de todos a sina

Não faz distinção

Do branco ou do pardo

Quem cantou, o bardo

Também foi levado

Ceifado no leito

Não deixou semente

A voz estridente

Não pode gritar

Foi emudecido

Da terra varrido

Ninguém lamentar

Pois não fez sua história

Sua maior glória

Foi nunca existir

Lua sangrenta parece sentir

Da história que o bardo

Branco ou pardo

Nunca soube contar

Ficou na memória

Não se fez história

Perdeu-se com ele

Ninguém lamentou

O poeta partiu

Não sei se sorriu

Mas hoje acabou

A morte levou

Voltará outra vez

Mas dessa não fez

Não cumpriu sua sina

Não deixou a senda

Da terra brilhante

De sangue vermelha

Nunca foi pequena

Que almejou alcançar

Não sem antes contar

A história terrena

Daquela serena

Que viveu outrora

Nela era a glória

Da terra e do mar

Sempre tão bela

Querendo louvar

Não pode viver

Mas soube morrer

Sem reclamar

A prenda singela, de flor

De donzela, só se amar

Nos prados brilhantes

Antes, negou-se a dar

Porque não quis se entregar

Sentiu a chegada

Da morte gelada

A sombra indecente

Que nunca foi gente

Sua vida a tirar

Tal tirania

Cumpriu sua sina

Da vida levar

Tirando a inocente,

O que nunca foi gente,

Da vida singela

Que soube amar

Da vileza que a foi derribar

A moça bonita

Não pôde escapar

Do falso fantasma

Que a quis dominar

Mas não sem antes lutar

A morte gelada

A vida sagrada

Da inocente levou

Sua sorte, foi-se com a morte

Mas ela soube preservar

Da inocente donzela

Nada se pôde tirar

Somente a vida

Pois foi-se a sorte

Mas sua pureza

Não sem a morte

Se pôde levar

Assim cumpre o bardo

Dá seu recado

A sombra indecente

Que nunca foi gente

Que a pode matar

Que a moça singela

Aquela donzela

Agora não se pôde vingar

Mas da história contada

A sombra ainda pagará

Da moça do caminho sem volta

Ficou a lembrança, da quase criança

Mas para a sombra indecente

O que nunca foi gente

A hora do acerto inda chegará.

Brasília – DF, 19 de julho de 2009.