Aparição fugaz

Quero a vida que sonhei para mim

Que confessei ao luar em noite escura

Aquela que um dia sussurrei ao vento

Quando não era mais que uma triste figura

Envolta em panos que sequer cobriam

A vergonha de ser como me queriam

A saudade de ser o que nunca fui

O desejo louco de um dia voltar a sê-lo

Hoje, olho para trás e não me vejo

Se os passos que trilhei foram apagados

Minha sina é amargurar tristes pecados

Sem ter perdão por tê-los imortalizado

Fico penando pela vida qual brumosa visão

Às vezes até acredito que sou só a aparição

O fantasma que deixei tomar minha vida

Quando dela desisti, por triste ainda

Não poder salvar o que de mais belo havia

A pureza que jamais existiu em mim

Se a vida me foi roubada quase nem percebi

Mas acredito que em nevoeiro denso me perdi

A saudade que amargo é das histórias

Que eu mesmo criei das minhas glórias

Que jamais aconteceram, nem foi possível

O que ficou foi esta aparição tão horrível

Que tomou minha essência e minha luz

Há tempos sei que é ela quem me conduz

Os passos que tenho percorrido sequer são meus

Mas não quero outra vez caminhar para me perder

Prefiro deixar-me abandonado e ser conduzido

Pelo fantasma que torna meus passos tão doridos

Mas se posso sempre culpá-lo dos erros meus

Acreditando que os pecados imperdoáveis são seus

Vou traçando assim a triste sina, dominado

Pela escuridão que dia a dia me abomina

Vou imaginando se ainda me verei ao meu lado

Pois estou tão fora de mim por ter-me afastado

Mas essa doce dominação me alimenta a alma

Sinto às vezes no horror enorme calma

É a certeza de não estar mais vivendo agora

E não precisar responder quando chegar a hora

Simplesmente sairei donde estou, ficarei ao léu

Rogo pelo dia em que tirarei este negro véu

E reencontro minha essência de fugaz corcel

Meu desejo enfim realizo, corto as amarras

Vou partir deixando para trás as amarguras

Nunca mais estarei naquela tão triste figura

Serei como o vento ao qual um dia sussurrei

Volto a pertencer a esta natureza que tanto amei.

Brasília – DF, 18 de julho de 2009.

(Com a colaboração de Nadja Cezar)