A sombra

Há tempos persegue-me uma sombra

Deformada, mal forjada, vestindo-se de minha

Há tempos percebo esta sombra, fingindo andar sozinha

Um vulto, uma sombra, etérea e cinza, fria e opaca, que

Com o dia se aplaca e junto à lua me espreita

Do que seria ela feita, luz ou escuridão?

Seria ela real ou ilusão? De ótica

De excesso de medo, de álcool, de solidão

Preciso olhar mais de perto – Melhor – Não

Abençoada seja a ignorância!

Quando tudo o que lhe acompanha

É uma dúvida, melhor não afugentá-la

Há tempos corri ao longe, tentando

Confundi-la, julgando despistá-la – Errônea

Escolha que fez tão triste e vazia minha rua

Desde então sigo, sempre e só, pelo caminho

Mais claro, dentre a noite mais escura

Rente à parede mais turva.

Há tempos persigo esta sombra

E não raro tropeço em amarguras

Há tempos persigo uma sombra, sonhando em ser tua.