POEMA SEMI-ESQUIZOFRÊNICO

hoje minha ânsia de construir castelos

está dormindo sob o tapete de algum país inexistente

tenho fome e tenho sede

a minha foram de senti-los porém é quase homicida

há uma mão áspera colando selos

em todas as minhas fugas

por isso às vezes existo secretamente

não posso ter olhos demais nos meus olhos

minha maneira se vigiar as coisas é tímida e despretensiosa

as ondas do rádio não transportam

a minha explosão sentimental e vingativa

há choro no meu desejo de amar

há luz em todo o meu despertar

(há luz de vela quase que apagando)

e eu sou tão fraco!

ainda não morri mas deixei de viver

em alguns momentos

aqueles em que tudo era desimportante

rente ao meu molho de amores

no peito um coração bibliotecário

empilhando sozinho suas próprias dores

e dizendo amanhã passará o meu bem

minha alergia do mundo

despediu sem justa causa a minha alegria das coisas

o caminho que seduziu os meus pés

é da temperatura de uma geladeira

meus pés tremem mas resistem firmes

eles acreditam na redenção dos seres

eles crêem na vitória final

por isso ainda distribuo flores no meu sorriso

por isso carrego beijos e carícias no meu coração

vou caminhando e dizendo amém

a caixa de observação dos meus olhos

consegue enxergar um horizonte palpável

meu coração no entanto não crê em nada

(meu coração crê em Deus e é ateu do resto)

os dentes sentem vergonha da hipocrisia

do meu sorriso vagabundo

hoje não trouxe a minha paz

estou me recolhendo no meu armário de ossos

para construir meu frágil instante de satisfação

minha satisfação é estar ausente das coisas

quando o momento suplica explicação

minha explicação é alimentar de fibra

o meu triunfante silêncio

um silêncio que me paralisa a vida e os gestos

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 06/08/2009
Reeditado em 20/08/2013
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