POEMA SEMI-ESQUIZOFRÊNICO
hoje minha ânsia de construir castelos
está dormindo sob o tapete de algum país inexistente
tenho fome e tenho sede
a minha foram de senti-los porém é quase homicida
há uma mão áspera colando selos
em todas as minhas fugas
por isso às vezes existo secretamente
não posso ter olhos demais nos meus olhos
minha maneira se vigiar as coisas é tímida e despretensiosa
as ondas do rádio não transportam
a minha explosão sentimental e vingativa
há choro no meu desejo de amar
há luz em todo o meu despertar
(há luz de vela quase que apagando)
e eu sou tão fraco!
ainda não morri mas deixei de viver
em alguns momentos
aqueles em que tudo era desimportante
rente ao meu molho de amores
no peito um coração bibliotecário
empilhando sozinho suas próprias dores
e dizendo amanhã passará o meu bem
minha alergia do mundo
despediu sem justa causa a minha alegria das coisas
o caminho que seduziu os meus pés
é da temperatura de uma geladeira
meus pés tremem mas resistem firmes
eles acreditam na redenção dos seres
eles crêem na vitória final
por isso ainda distribuo flores no meu sorriso
por isso carrego beijos e carícias no meu coração
vou caminhando e dizendo amém
a caixa de observação dos meus olhos
consegue enxergar um horizonte palpável
meu coração no entanto não crê em nada
(meu coração crê em Deus e é ateu do resto)
os dentes sentem vergonha da hipocrisia
do meu sorriso vagabundo
hoje não trouxe a minha paz
estou me recolhendo no meu armário de ossos
para construir meu frágil instante de satisfação
minha satisfação é estar ausente das coisas
quando o momento suplica explicação
minha explicação é alimentar de fibra
o meu triunfante silêncio
um silêncio que me paralisa a vida e os gestos