POEMA QUE NÃO MERECE TÍTULO
menino
recolha suas chagas e aviste por cima dos olhos
uma luz que se anuncia um muro de palavras fechadas
calção ainda infante sabe-se refúgio
e encolhe-se da possibilidade do afago
minto quando desejo e ainda não descobri a fórmula
de se sonhar escondido das frias necessidades humanas
nasci ontem
menino número elemento que acrescenta
e hoje é tempo de deitar fora
vassouras construídas à toda velocidade
há agora a ultrapressa cega locomotiva menor
que uma mão em posição de adeus ou último tapa
sirva a taça com molho de cólera
menino entrega logo seu recado e finja-se morto
canhão de luz que concede um último desejo:
ser só uma interrogação em meio às palavras