Mistério Impenetrável

É belo todo o mistério que se perpetua!

Veja, por exemplo, aquela estrela

[aquela vaga estrela nua

aquela vaga estrela palpitando no infinito.

Embora ilumine teus olhos

com seu incandescente brilho que se perpetua,

sempre haverá aquele vago mistério impenetrável

aquele vago rumor de coisa

não desvelada, sombria,

como os murmúrios de lamentação do oceano

quando tudo é introspecção e silêncio

e nossa pele tem o aroma da maresia.

Ou, ainda, quando o vento vem soprando em nossa lembrança

seu doce gosto de água salgada

e estremece nossa alma

num tímido arrebatamento dos sentidos.

Ou aqueles duros sinos de bronze

que badalavam sordidamente

sobre a cidade portuária

mas que pareciam doer dentro da gente

como qualquer coisa grave

e misteriosa que não se traduz em palavras.

Porque é belo tudo o que encerra um mistério.

Tudo o que move e geme

e vaga e voa e gira,

a nau, o vórtice, o pássaro, a lua

a noite que derrama sombras

sobre as casas

e adormece os homens

a sorrateira ave noturna

toda a natureza inumerável, é bela,

é bela como tua trágica natureza em flor

trágica flor erguida sem hastes

sem raízes, sem pétalas

mas que passeias levemente

seu doce passo de mulher amada

sobre a terra

sobre as calçadas do meu triste mundo suburbano.

Oh, trágica mulher amada!

Nada mais misterioso que a mulher amada...

Mulher, que mesmo despida

na mais extrema nudez,

carrega nos seios, bocas, lábios

e mamilos a rígida substância

do seu mistério impenetrável.

***

Alex Canuto de Melo
Enviado por Alex Canuto de Melo em 06/08/2009
Reeditado em 20/09/2009
Código do texto: T1740325
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