Cereja

Você já ouviu dizer
De poeta que não escreve
Satisfaz-se ao que se compadece
A contemplação da madrugada
Com suas faces quebrantadas
Refletindo ilusões
Poeta que nada pede
E que tudo espera
Em intervalos de silêncio
Uma expectativa
Poeta que nunca amou
Não foi amado
De certo que amou
Quando amado desprezou
Poeta que vive utopia
Copos insaciáveis
Preenche carências prosaicas e fatídicas
Já ouviu dizer
De poeta que não exclama, reclama
Da vida, do amanhã, ontem, antes de ontem
E sorri falsos marfins
Poeta que não chora, não implora
Inquisidor de si
Caros, eu sei, os há
Poeta é indefinível
Perdido e encontrável
No seu universo de cereja.