Ah, esse Deus...

Às vezes Deus parece criança;

Que distraído em seu universo nem percebe a minha dor.

Ao mesmo tempo me surpreende com suas mil maneiras de amar.

Quando o espero com armas e alaridos, Ele chega em silêncio sem que ninguém o perceba. E quando penso que virá em silêncio, Ele vem para guerrear.

Que Deus é esse que domina todas as coisas com uma sabedoria inigualável?

Com um poder terrível e ao mesmo tempo um amor inexprimível?

Imagino seus olhos seguindo meus passos, observando meus atos e desmanchando as armadilhas e tantos laços.

Imagino seu coração pulsando forte em seu peito, por receber de um frágil humano uma verdadeira demonstração de amor.

Amar quem olha nos olhos muitas vezes é difícil; O que diria amar quem nunca viu e nem sabe se de fato existe?

Mas há um espírito dentro de mim que não está enfeitiçado nem adormecido na cegueira tenebrosa.

Ele tem vida e fala e sente e ama Àquele que o criou e no mais secreto silêncio, ouvir um sussurro já é um grande começo.

Um mundo novo se torna presente, os pensamentos nascem, os sentimentos conversam entre si e o espírito cresce e ganha novas roupas.

E juntos falamos de Deus, sentamos num chão qualquer e trocamos idéias.

Concordamos, discordamos. Cada dia é um recomeço.

Às vezes me irrito com as consequências e digo à Ele num tom rude:

“Hei Deus, não está vendo o que se passa? Se está, por que não faz alguma coisa?”

Ele sabe que ainda sou criança, que não o conheço o suficiente para compreender as dores no mundo; Então se cala e deixa que eu mesma reconheça meus deslizes.

Aí logo tudo passa e digo: "Ah, Deus querido, me perdoe por ser tão ignorante."

Ele apenas sorri e se cala. Se cala porque sabe que logo à diante vou estar errando novamente e fazendo as mesmas perguntas.

Gosto de vê-lo como menino, isso me deixa mais à vontade.

Conto meus segredos mais íntimos como se Ele não soubesse

Escondo meus piores defeitos como se Ele não os vissem

Assim fico forte e me curo de mim mesma.

As palavras nem sempre são ditas mas por que dizê-las se o pôr-do-sol as fazem calar?

A lua no mar, o sorriso da criança, as cores das borboletas, a canção dos pássaros...

O adeus de um guerreiro, uma lição de vida na sepultura...

Sabe, ainda sou criança mas um dia vou crescer, aí vou querer seguir seus passos.

Sei que se meu amor for o bastante Ele me deixará segui-lo fingindo não me ver para que eu me surpreenda ainda mais.

Vou descobrir alguns de seus segredos, seus desejos, sua fortaleza, seu ponto fraco, seu esconderijo, sua canção quando a noite cai...

Aí vou voltar pro meu mundo todas as noites e escrever sobre Ele.

Não posso perder nenhum detalhe.

E depois dessa viagem, deixar cair migalhas à quem merece.

Vou conversar com Ele antes de dormir

E sei que às vezes vou sorrir e às vezes vou chorar

Porém não vou mais me perder porque encontrei seu olhar.

Ah, esse Deus...

Léia Carmona Torres
Enviado por Léia Carmona Torres em 06/08/2009
Reeditado em 09/12/2015
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