Cuns Cus Critus Miratus Pitus                                        

  (Ao meu melhor amigo)
 
Fecho meus olhos, forte, forte,
Aperto assim como que para ver melhor!
Repentinamente meu coração se abre,
E como um pássaro liberto das grades,
Voa longe o meu pensamento,
Voa, levando nas asas a sua imagem.
Vejo suas mãos bonitas descascando cana para eu chupar,
Cortando pedacinhos tão caprichosamente iguais,
Tirando os nós e rodando com habilidade o canivete nas mãos.
Vejo suas mãos envolvendo a direção do carro,
Passando os polegares sobre a pontinha dos indicadores,
Sempre da mesma forma...
Perco-me no verde amarelado dos seus olhos,
Olhando longe... Cheirando o vento,
Invariavelmente começando a frase assim:
_ Sabe Paulinha...
E então me olhava no fundo dos olhos,
Para me ensinar alguma coisa,
Que eu nem percebia o quanto estava aprendendo...
Ah... Eu ouço sua voz contando causos,
A proteção cheia de desculpas implausíveis,
Só para que eu não me sentisse diminuída...
A alegria no rosto dele,
Quando tocava seu violão imaginário...
Crim crim, crim...crim crim... crim...
Ou dizia em tom solene:
Cuns cus critus, miratus pitus,
Frase que ele inventou,
Quando não cabia palavra alguma para ser dita.
Meu pai era assim: é assim!
Habita dentro de mim, escondidinho,
E só eu sei que ele não se foi não,
Ficou vivo e aparenta a minha idade hoje.
_ Sabe pai...
Só não se esconde tanto, tanto...
Que eu não consiga te dar um beijo de Dia dos Pais!


Óleo sobre tela
Paula Baggio
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Paula
Enviado por Paula em 05/08/2009
Reeditado em 06/08/2009
Código do texto: T1738957
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