ERA UM D'OUTRO AMANTE (à memória de Mário Cabral)

Eu também voltei , Mário, à velha casa

E, assim, da mesma maneira, revejo

Passado filme que meu peito abrasa,

Da minha mãe eu sinto mais um beijo.

Ai, divina lembrança que me enlaça!

Tempos bons d’outrora, sombra e lampejo

Cantiga de ninar ecoa e passa

Ouço ainda dolente realejo.

Eu e meu pai na valsa debutante

Abraçados, na sala, que delírio,

Olho no olho, era um d’outro amante.

Depois, enlevada, quão sorridente,

A luz se apaga, desabrocha o lírio,

A vida era um sonho lindo, inocente