Poeta de Moçambique

Tento ler o poeta de Moçambique,

mas a moça não me permite

e sem que lhe peça fala de seu chilique,

do último trambique,

da cachaça do novo alambique

e vocifera para que eu não me arrisque

ir além da cerca de pau a pique.

E que como está, que tudo fique.

Que nada se modifique,

pois senão virão os guerreiros,

pencas de arqueiros,

de jovens baderneiros

e tudo mais que cause desgosto,

ainda que pressuposto.

Principalmente nesse mês de Agosto,

em que a água é inútil para limpar o rosto.

Estou marcado, estou maculado,

sou um safado que insiste em viver errado.

Um velho celerado,

canceroso declarado,

prestes a ser enterrado.

Noites trágicas,

de vazantes hemorrágicas

e de mulheres verborrágicas.

Mas e se fossem mágicas?

Conversaria com o poeta de Moçambique

e recordaríamos nossas trajetórias,

as nossas histórias

e o que mais chegasse em nossas memórias.

E entao, nem trágica nem mágica.

Seria só a noite de lembrar

cada qual do seu lugar.

Cada um, do seu lar.

Em homenagem ao Poeta Mpiosso-ye-Kongo