Ao papel
Hoje não escrevo a mim nem a ti
Escrevo apenas
Ao papel
Pois sua existência assim o pede
Sua alva superfície clama
E em triste vastidão reclama
Por letras, riscos
Ou traço qualquer
Retilíneo ao paralelismo linear
Arrisco meros rabiscos em versos
De folhas ou poemas talvez
Escrevo, pois assim o papel pede
E linha a linha me toma
E paginando a vida mede
Sobre mim, reflito
Sobre ti, palpito
Sobre o papel, escrito
Sua leitura é minha
Inspiração
Confesso
O eu-lírico não me é
E por vezes me atravessa
E não raro me impele
Só no papel sopro-lhe vida
E ao etéreo se eterniza
O sentimento que infere
Escrevo ao papel
Pois nele transcrevo a vida
E fora dele sou nada que a vida expele
No papel sou poeta que versa a própria pele