Vida de cão
Quem nasce no sertão tem vida de cão
Trabalha que nem burro de carga
Pra alimentar a família seu maior bem
Sonhando com uma mesa farta.
E depois de um dia suado
Seu corpo estraçalhado cansado
O matuto reza pra deus e nossa senhora
Pra ver os seus filhos bem alimentados.
Mas a seca malvada seca o chão
E só resta ao pobre coitado se retirar
Ele junta a família e o pouco que lhe resta
E sai de mundo a fora a se lamentar.
Mas pior que viver no sertão
É vagar nas ruas da capital
Dormir numa cama de papelão
E morar na beira de um canal.
Lá ele abriga a mulher e as crianças
Sem trabalho, sem dinheiro pra comer
Revoltado passa o dia num botequim
E enche o bucho de cachaça até desfalecer.
A mulher de barriga já desnutrida
Mais oito filhos e uma cunhada faminta
Na beira de um canal pedindo comida
Num sinal fechado de uma grande avenida.
O pai marginalizado sai vendendo as crianças
Pra enganar o estomago vazio
Viciado numa tal de droga
Que é moda nas calçadas do brasil.