POEMA LUZ CINADO
muita luz
um ônibus que transpassa dois meios
na parte interna da minha condição de olho
black-up tape e um surdo tocando blues
no espelho apenas um facho de dor
roendo a vaidade do veterano
olhando na palma um dedo insinua uma revolução
mas cai sabendo-se um protesto inútil
a geladeira ameaça romper e dissolver
qualquer assembléia
na mão da criança há um ser inexplicável
que fabrica um estranho brinquedo
no coração da criança há um vírus
que se alimenta de sonhos
não resta à criança o último grito
no lugar da sua fala os anunciadores pediram o comercial
nas ruas coincide com os pés uma mistura de sonhos
viajando alguns de cadeira-de-roda outros ao som do maracatu
os olhos beijam a imagem de veneza mas na íris
o toque sincero da vida diz "não:
coloque o seu último pó na promoção"
entoarei meu hino sem atitude só para espantar as moscas
de cima do meu baú de ossos humanos
um bebê desistiu de nascer por não saber o inglês
enquanto o relógio descansa à margem do rio insalubre
que a humanidade construiu em 2010
eu estou ocupado na construção dos meus dinossauros
meu gene homozigoto dominante está em depressão
por causa do aumento da imagem do dólar na minha imaginação
deixarei que o mundo refaça sozinho minha voz
para que eu possa enfim discordar e morrer calado