POEMA LUZ CINADO

muita luz

um ônibus que transpassa dois meios

na parte interna da minha condição de olho

black-up tape e um surdo tocando blues

no espelho apenas um facho de dor

roendo a vaidade do veterano

olhando na palma um dedo insinua uma revolução

mas cai sabendo-se um protesto inútil

a geladeira ameaça romper e dissolver

qualquer assembléia

na mão da criança há um ser inexplicável

que fabrica um estranho brinquedo

no coração da criança há um vírus

que se alimenta de sonhos

não resta à criança o último grito

no lugar da sua fala os anunciadores pediram o comercial

nas ruas coincide com os pés uma mistura de sonhos

viajando alguns de cadeira-de-roda outros ao som do maracatu

os olhos beijam a imagem de veneza mas na íris

o toque sincero da vida diz "não:

coloque o seu último pó na promoção"

entoarei meu hino sem atitude só para espantar as moscas

de cima do meu baú de ossos humanos

um bebê desistiu de nascer por não saber o inglês

enquanto o relógio descansa à margem do rio insalubre

que a humanidade construiu em 2010

eu estou ocupado na construção dos meus dinossauros

meu gene homozigoto dominante está em depressão

por causa do aumento da imagem do dólar na minha imaginação

deixarei que o mundo refaça sozinho minha voz

para que eu possa enfim discordar e morrer calado

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 03/08/2009
Reeditado em 20/08/2013
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