ALMA NO MEU MUNDO

Meu pensamento, por vezes, esquece-se que carrega o mundo.

Meu pensamento tem uma forma egoísta de sorrir o mundo.

Eu me carrego sem ter na boca uma lista de explicação.

Muito vadia é a hora das explicações.

Nada se explica. Tudo existe no momento. Dentro do momento.

E fora do momento, tudo é vadiagem de pensamentos.

Olho para o mundo e vejo que ele era mais belo pela manhã.

O mundo que eu vi pela manhã não pode ser o mesmo que vejo agora.

O mundo pela manhã abriu no meu rosto uma trincheira de sorriso.

Esse mundo, asmático e taciturno me interroga se meu sorriso

Foi gratuito pela manhã.

Há no mundo uma estranha comunicação que me acostuma.

Alguns misturam o trágico de um crime com o belo das palavras,

E sem remorsos, compõem um histórico poema.

Outros descobrem a poesia escondida entre os papéis da estatística.

Mas destes, coitados, a poesia some, esconde, suicida.

Há no mundo vozes que anunciam silêncio.

Tudo porém, no mundo, é feito por um código não silencioso.

Não há silêncios no mundo.

Ouço gritos, mortes, calúnias. Alguns matam um pedaço de mim

Um pouco por dia.

Mas eu resisto calado, e em semi-silêncio.

Qualquer pensamento é a prova de que o silêncio não existe.

O mundo corre, buscando chaves para abrir suas doentes portas

E libertar seus doentes ideais.

Eu não tenho nenhuma chave, mas não preciso também,

De forma doente, abrir nenhuma porta.

Meu caminho pelo mundo é feito onde não há portas.

As estranhas construções que rodeio

Não convidam meu coração para um passeio.

Por isso percorro entusiasmado por uma rua que se diz minha.

Por isso vivo um pouco mais para receber no fim do dia um sorriso.

O mundo olha nos meus olhos e surpreso, descobre:

Não o pertenço. Sou de fora. Não o conheço.

Não há nos olhos do mundo sedução necessária para me apanhar.

Não há na cor salgada da voz do mundo um elemento

Que se faça braços e algemas e me possua.

Pertenço a uma forma diferente de existir.

Minhas estações não estão subordinadas a uma ordem.

Minhas horas não estão presas em nenhum relógio.

Há um mundo mais belo e em parte meu.

Esse é o que represento, que busco, que ofereço, que vivo.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 03/08/2009
Reeditado em 20/08/2013
Código do texto: T1734043
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