MINHA DOR COMPANHEIRA
Deixo-me companheiro dessa dor antes esquecida
Trazida pelos verbos da noite (desassombraram-me).
Por vezes, antes do sono são meus únicos carinhos
Sibilando como canto de passarinho em belo trinado.
Se for a solidão mensageira, não me desaconselha
Apenas refaz meu juízo como medida de compaixão.
Como amante enciumado enxergo amantes em poesia
Todos como num repente, repetem-na companheira.
Da ilusão de vítima da humanidade é criadora única
Se passageira, atribula-me como farsante enamorado
Da vida em estado de permanente comunhão festeira
Retribuo-lhe como arrancar espinhos da flor querida.
Dor, minha paixão que evoca versos sem muitas rimas
Não és continua para saber-me vivo n’outros instantes
Porque a mim foste fiel como balança que visa a vida
Ensina-me o amor que me envolve e a paixão passageira.