Aquele Outro

Não te mates, Eu!

Não quero de novo morrer assim

Porque a morte é a pior das solidões

No século morto, fora outro

quem buscou me desmentir

aquele que enxergava demais

curou-se da cegueira dos homens

livrou-se do amor

e ousou me desmentir

Ignorou o tempo como tempo

e refugiou-se da doutrina sã

sentado, sozinho

descobriu-se em pele nua

e fez crescer a mente crua

para encontrar a solidão

Fora o homem de uma só face

que andava no escuro

vacante, vacante

de um pensar sem pudores

uma memória sem saudades

e um inverso imerso em si

Insalubre, num surto de delírio

revirou-se pelo avesso

e viu-se morto: na pior das solidões

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Para o poema "Penumbra Azul", que me surtou inspiração.