Poema sem inspiração.

Estendi um colchonete na sala,

um lençol e deitei.

A pensar, pensando fiquei,

mas, o que pensava, nada convencia.

Teimoso, em vão, novamente tentei,

levantava e deitava, deitava e levantava,

um café e outro e mais outro tomava,

mas, nada da cabeça saia.

Meu cérebro estava paralisado,

aniquilado por um imenso vazio.

E mesmo num esforço descomunal,

ou no débil desconforto banal,

quando uma pequenina luz algo trazia,

as letras não encaixavam-se no papel.

As páginas que amassava,

já não cabiam mais no lixo.

Então senti-me inevitavelmente frustrado.

Nem ao menos chorar conseguia,

para compôr talvez, algo triste,

ou provar a mim mesmo que ainda existe,

a inspiração que sempre tive.

A solidão e o medo tomou conta de mim.

Não existe ninguém, nada, que me contemple.

Olho ao redor e só vejo coisas que não rimam com nada.

Não consigo... Estou acabado... É o meu fim...

Mas, algo me deixa conformado e sem dores.

Mesmo que a poesia sege sem nexo de sentidos reais

e mesmo que decentemente, a ninguém eu convença mais,

ela é sempre feita com carinho, para os meus amigos e amores.