SOU UMA FOLHA AO VENTO

Um dia me desprendi da arvore que me sustentava.

Fiquei no chão olhando a altura onde eu estava,

Como me senti pequena.

Sem nada a me prender, fui levada pelo vento.

Dobrei esquinas, subi colinas,

Fui pisoteada, molhada, humilhada.

Ate que alguém prestou atenção em mim.

Fui recolhida, lavada, olhada com respeito.

Senti o carinho na minha pele,

Dedos percorreram minhas nervuras.

Fui comentada, analisada,

Olhares me fitaram curiosos.

Fazia parte de alguém.

Não exercia mais a minha função,

Mas era objeto de estudo de uma nova.

Sou uma folha ao vento.

Acariciada pela veludez da pele.

Crianças disseram que eu parecia com um mapa.

Fui guardada dentro de um caderno,

E deixei minhas impressões digitais nas suas paginas.

O vento me levou a conhecer novas irmãs,

Ouvi comentários e fui motivo de discussões.

Fui fotografada e elegida como símbolo de uma luta.

Participei de passeatas e tumultos.

Subi os degraus da fama e destacada.

Após a euforia fui deixada de lado.

A sarjeta recebeu nova moradora,

E fui carregada por um dilúvio.

Mais uma vez o vento me levou para bem longe.

Outras cidades, outras pessoas.

Já marcada por tantas mudanças,

Não chamava mais a atenção.

As estradas foram minhas companheiras,

Assim como a chuva e a lama.

Em nenhum lugar fixava residência,

Era uma viajante sem destino.

Cansada, o vento me deixou num certo lugar.

A sombra que me protegia,

Fez com que eu olhasse para cima.

Reconheci de imediato o desenho,

Que se formava no solo.

Olhei para cima e as lagrimas rolaram,

Entre minhas nervuras.

Era a arvore que me sustentou um dia.

Reconheci minha família,

O galho que ainda não havia apagado a minha marca.

Veio a lembrança da importância que eu tinha.

Fazia parte da orquestra que entendia o som da brisa,

Que desafia a lua do sol do meio dia,

Recebia a chuva fria,

E ofertava a sombra do descanso para alguém.

Hoje sou uma folha ao vento...

Di Camargo, 29/07/2009