Naquele dia, o mar inundou de sal os bosques.
Uma sereia ficou presa pelos cabelos.
Semanas depois, quando o mar arrefeceu,
dizia-se, a sereia ainda vivia. Com sua vida
inventada, seus cabelos esverdeados,
com a respiração nutrida pelas almas
de mil árvores mortas, a sereia ainda vivia.
No limbo subaquático que já fora um bosque,
depois, o fundo do mar e depois,
só Deus sabe o que será, a sereia regia
um coro de vozes abafadas, semidespertas,
engasgadas com uma teia de algas levemente
apodrecidas. Esta é a canção que roubou
e tem roubado o sono da nossa aldeia.
Alguns de nós ainda compõem versos
com o que restou da insônia. Os outros
já nem se indagam mais o que é feito
do nosso antigo saber. Mas vivemos disso.
UM POEMA LINDO DE
LIVIA SOARES