O hospício dos certos
Andar ando com os acostumados à derrota,
Com os habitantes invisíveis da sarjeta dos ignorados.
Sou amigo dos corcundas perdedores, dos desajustados não notados,
Horríveis desconhecidos.
Caminho com os homens-aberrações que saem se escondendo pelas esquinas quadradas,
Humilhados pelas alegrias casuais, tão inalcançáveis.
Faço parte da equipe dos humanos feios, dos azarados tímidos, dos covardes chorosos nestes dias chorosos.
Andar ando com os ausentes,
Moradores sozinhos da casa da angústia, não percebidos, não presentes, ruins de se olharem.
Camuflados entre as paredes de cor oca, tão fracassados em ser.
Sou dos ridículos pobres, piada das prostitutas, piada dos jogadores, piadas.
Vencidos por qualquer pequeno estalo, rejeitados de amores, traídos em centenas, mal arrumados, mal acabados,
Deselegantes palhaços sem harmonia.
Esquecidos facilmente, não lembrados pelas emoções, não convidados às festas cretinas dos prazeres escuros em que o nascimento da manhã seguinte não importa.
Aqueles que as histórias não carregam, que as saudades não apontam,
E o hálito dos acasos não sussurra paixão alguma.
Que a voz é um lamento e a canção uma despedida.
Que a miséria é normal.
Sou transformador de suas quase palavras, e sou um destes.
Exército fraquíssimo de soldados medrosos, a vergonha das raças.
Dos que vivem na margem da página onde nada consegue se escrever, se mostrar, se falar,
Eu sou o grito
Um maldito de um grito escrito.