O Despir de um Amor
Despertas-me o horizonte dos sonhos
Vencendo o vazio renitente da espera
Deténs o relógio de todas as ausências
E a névoa de quaisquer desencantos
Em mim, a vontade nítida de te ver
Como se apenas ao imperativo do desejo
Tu pudesses estar comigo
À minha volta, reflexos de pálidas madrugadas
Que te anseiam na primeira luz da manhã
Pernoita o olhar na insônia da tua falta
Busco a última estrela no espelho do meu olhar
E ouço apenas o canto noturno da solidão
Todos os meus gestos ousam a entrega
E todas as palavras falam-me de ti
Tomas em ti a minha vida
Quando na mansuetude do meu peito
Deitas-te em cálida ternura
Trazes no silêncio dos teus olhos
O mistério de toda minha existência
Um segredo se prolonga
Neste instante de silêncio
Quando surges, onde a razão não te previa
De súbito, nos caminhos da memória
A saudade atravessa a ponte do meu olhar
Deixando os teus passos sob o horizonte
Onde o sonho rendido deixa-se acalentar
© Fernanda Guimarães