O Olhar. o silêncio e a face da saudade
De súbito, apenas o silêncio
Insinuam-se todos os pensares
No afago brando do contemplar
Somente os olhares transbordam
Janelas abertas ao movimento do dia
Pequenas frestas, onde divago
E deixo escapar o mundo
Que emudecido me habita
Um estar enviesado e esparso
Fadiga de todas as palavras
Que não me exprimem
Neste tempo suspenso de mim
O minucioso contorno das letras
Não volteia as minhas emoções
As vírgulas, pausas inconsistentes
Não traduzem o interregno, hiato súplice
Em que o silêncio cúmplice me envolve
Calando o pretenso delatar das mãos
Os pontos finais, definitivos demais
Não acompanham a entrega
Quando me deito mansa e nua a meus pés
Apenas uma reticência pontua o suspiro
Quando para além da linha do horizonte
Deixo-me contemplar por meus olhos
Nada teria a dizer
Não fosse o olhar percorrer
Os corredores da memória
Tomando-me em seus braços
Encosto o rosto a solidão do lembrar
E uma saudade beija-me a boca
Em dias assim, é o silêncio
A mais eloquente linguagem
A confissão mais explícita
Do que vocifera nas linhas
Que meu coração não sabe escrever
Fernanda Guimarães
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