O Olhar. o silêncio e a face da saudade

De súbito, apenas o silêncio

Insinuam-se todos os pensares

No afago brando do contemplar

Somente os olhares transbordam

Janelas abertas ao movimento do dia

Pequenas frestas, onde divago

E deixo escapar o mundo

Que emudecido me habita

Um estar enviesado e esparso

Fadiga de todas as palavras

Que não me exprimem

Neste tempo suspenso de mim

O minucioso contorno das letras

Não volteia as minhas emoções

As vírgulas, pausas inconsistentes

Não traduzem o interregno, hiato súplice

Em que o silêncio cúmplice me envolve

Calando o pretenso delatar das mãos

Os pontos finais, definitivos demais

Não acompanham a entrega

Quando me deito mansa e nua a meus pés

Apenas uma reticência pontua o suspiro

Quando para além da linha do horizonte

Deixo-me contemplar por meus olhos

Nada teria a dizer

Não fosse o olhar percorrer

Os corredores da memória

Tomando-me em seus braços

Encosto o rosto a solidão do lembrar

E uma saudade beija-me a boca

Em dias assim, é o silêncio

A mais eloquente linguagem

A confissão mais explícita

Do que vocifera nas linhas

Que meu coração não sabe escrever

Fernanda Guimarães

www.fernandaguimaraes.com.br

Fernanda Guimarães
Enviado por Fernanda Guimarães em 16/05/2005
Reeditado em 25/08/2008
Código do texto: T17238