Sonata da Criação
Seu caminhar não abalou o silêncio pré-genesíaco
que dormia.
Aproxima, sorri, senta-se (á frente)*
hálito com hálito.
Toca meu dedo anelar
e o martelo,
ainda tímido,
faz vibrarem meu nervos
que soam leve o bastante para embalar o primeiro sol do recém-mundo
e arrepiar-me toda, ali.
Logo taca também o segundo
e o terceiro
e as notas vão regendo as coisas e os seres,
e o quarto
e a mão
e me faço, enfim
– me faço não; e me faz, enfim
ser ouvida, vencendo o vácuo e o infinito
para um instante depois quietar,
esbaforida
– esbaforida não, esbaforidos
de tanto soar e tocar e suar.
Ainda,
antes de partir,
fecha-me a calda e acaricia
de tão leve
que apenas as pontas dos dedos me pulem e me engorduram.
E tudo volta ao pré-genesíaco
e nem ouço seus passos o afastando.