Sonata da Criação

Seu caminhar não abalou o silêncio pré-genesíaco

que dormia.

Aproxima, sorri, senta-se (á frente)*

hálito com hálito.

Toca meu dedo anelar

e o martelo,

ainda tímido,

faz vibrarem meu nervos

que soam leve o bastante para embalar o primeiro sol do recém-mundo

e arrepiar-me toda, ali.

Logo taca também o segundo

e o terceiro

e as notas vão regendo as coisas e os seres,

e o quarto

e a mão

e me faço, enfim

– me faço não; e me faz, enfim

ser ouvida, vencendo o vácuo e o infinito

para um instante depois quietar,

esbaforida

– esbaforida não, esbaforidos

de tanto soar e tocar e suar.

Ainda,

antes de partir,

fecha-me a calda e acaricia

de tão leve

que apenas as pontas dos dedos me pulem e me engorduram.

E tudo volta ao pré-genesíaco

e nem ouço seus passos o afastando.

Wellington de Souza
Enviado por Wellington de Souza em 28/07/2009
Código do texto: T1723052
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