A NOITE ENTRE SUBMUNDOS

Nos lábios frios e úmidos

ela pincelou langorosamente

um brilho vermelho-sangue, das vitimas

despejando-as sob sua diáfana abóbada índigo

assim como o mar, encobriu cadáveres

qual perene e profunda sepultura

Amante do inverno rigoroso

com os miseráveis claudicantes

refugiados nas marquises do tempo

também não lembrou da ternura

deu guarida para o tirano

que no casebre simples e sem mata-juntas

derramou pânico, dor e amargura

Para depois charmosa e deslumbrante

no seu longo vestido azul escuro

cravado de diamantes

tornar doce os sonhos pueris

e intenso & balbuciante

os amores febris

Fez-se fonte maviosa de repouso e reparação

mas teima em não mudar de face no calabouço

e nas grotas do mundo e submundo

da prisão

o choro intenso do nenê

rasgou seu e-charpe sereno

mas pela dócil mãe lactante

foi contido o mimoso pequeno

viu uma chuvinha generosa e imparcial

cantante, massagear costas & sonhos

de derrotados e vitoriosos

viu jovens em titânica truculência hormonal

enlear-se loucamente,

nos seus cabelos sedosos

em fim

despiu-se do seu vestido

com suavidade & languidez

mostrando todas as facetas da sensualidade

do amor, da maldade, da humanidade

de uma polifonia sob volume baixo

do homem que se cansa de ser humano

da força do repouso, da renovação

da matizes da insensatez

do homem sonhador, sob sobriedade

ou embriaguez.

e pouco antes do amanhecer, ela se foi.

Meu blog: poesiasegirassois.blogspot.com

Davi Cartes Alves
Enviado por Davi Cartes Alves em 27/07/2009
Reeditado em 01/08/2009
Código do texto: T1722313
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