TANTO TEMPO
Queria aqui tua visagem,
O azul dos teus olhos contrastando
A verdejança dos monumentos.
Queria aqui, comigo, teu caminhar
-que chamo de patético-
Teus pés arrastando sandálias simples
E tua alma em repouso ante à visão dos pássaros
Que, a cada manhã, se alternam na varanda,
Perfurando com bicadas as cascas tenras das frutas.
Queria aqui, junto de mim, tua boca tranqüila
E teus olhos empenhados
Em aprender a melodia dos galhos
Chacoalhados pelo vento.
Queria te oferecer os limões que despencam,
E tingem de amarelo a estrada de terra.
Queria-te aqui, por quanto tempo desejassem
Teu coração e teu entendimento.
Queria declarar o meu amor por ti
-que é tão grande-
Enquanto sobre o banco de madeira
Tentasses em vão recuperar, na memória
Violentada, uma qualquer brincadeira da infância,
E uma pequena canção colorida
Que, desapontados, descobrimos
Que já não existe mais...