PASSANTE
Quis sonhar nu poema
Uma outra idéia de braço
Que não mova nem cegue em mim o momento
Desesperado tenor que inaugura o aplauso
Olho por olho
Rajadas de néon encomendadas no camelô
Armaram um altar e formas de ataques
Para cercar meu coração que dorme
Ao som e ao silêncio de uma canção desocupada
Menina na forma de outra qualquer maria
Carrega vontades e apela em segredo uma oração
Envolto em caixas de fraldas encaixo em Freud
Meu suplício minha última prece o indulto do defunto
Cai a noite e nela converto-me em corpo de braile
Estudo o som e a água mas falta-me a necessidade de irmãos
Minha mão repele o farto abraço
Meu banquete é servido diet sem beijos e com a língua
Sendo a severa guardiã de seu único idioma
Espio a morte que dorme sem brado e sem glória
Concedo-lhe sem entusiasmo meu apoio e minha fé
Mas ela exerce uma espécie de férias sobre mim
Roendo seu resto a dor empala na minha alma o silêncio da paisagem.