PASSANTE

Quis sonhar nu poema

Uma outra idéia de braço

Que não mova nem cegue em mim o momento

Desesperado tenor que inaugura o aplauso

Olho por olho

Rajadas de néon encomendadas no camelô

Armaram um altar e formas de ataques

Para cercar meu coração que dorme

Ao som e ao silêncio de uma canção desocupada

Menina na forma de outra qualquer maria

Carrega vontades e apela em segredo uma oração

Envolto em caixas de fraldas encaixo em Freud

Meu suplício minha última prece o indulto do defunto

Cai a noite e nela converto-me em corpo de braile

Estudo o som e a água mas falta-me a necessidade de irmãos

Minha mão repele o farto abraço

Meu banquete é servido diet sem beijos e com a língua

Sendo a severa guardiã de seu único idioma

Espio a morte que dorme sem brado e sem glória

Concedo-lhe sem entusiasmo meu apoio e minha fé

Mas ela exerce uma espécie de férias sobre mim

Roendo seu resto a dor empala na minha alma o silêncio da paisagem.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 27/07/2009
Código do texto: T1721329