GIRASSOL DE PANO
Gira vida, roda, sonho,
Gira fundo, mundo insano,
Gira, num girar medonho,
O meu girassol de pano.
Gira o céu sobre seu eixo,
Giro eu, quando me deixo,
Gira guerra, fome, dano,
Gira tudo o que é profano...
Giram as águas do rio,
Gira o timão do navio
Que navega em desengano...
Gira o mar, vento tirano...
Gira Tempo, velho arcano...
Gira Terra, morro, duna,
Gira a Roda da Fortuna
E o destino soberano.
Gira noite, gira espanto,
Gira o cavaleiro santo
Sobre as raias da razão...
Gira a Lua, que impera,
Girando sobre outra esfera,
Num giro insensato, a esmo,
E o giro, sobre si mesmo
(Princípio de furacão),
Faz despertar a Quimera,
Que, adormecida, espera
Nas entranhas do Dragão.
Gira Pentáculo, Espada,
Cálice e Bastão de Fogo!
Giram no místico Jogo
Reconquistando a estrada
Do Norte que nos conduz
Pelos caminhos do Tao,
Ao Castelo do Graal,
Na junção de treva e luz.
Gira manhã, gira Sol,
(O mundo é um caracol)
Gira de volta pro leito
Do ventre onde me estreito
Misturado a um brinquedo...
Onde não existe o medo,
Nem tristeza, nem engano,
Só um girassol de pano.
Rio, 2 a 7 de Julho de 2002
(Musicado pelo autor no mesmo ano)