GIRASSOL DE PANO

Gira vida, roda, sonho,

Gira fundo, mundo insano,

Gira, num girar medonho,

O meu girassol de pano.

Gira o céu sobre seu eixo,

Giro eu, quando me deixo,

Gira guerra, fome, dano,

Gira tudo o que é profano...

Giram as águas do rio,

Gira o timão do navio

Que navega em desengano...

Gira o mar, vento tirano...

Gira Tempo, velho arcano...

Gira Terra, morro, duna,

Gira a Roda da Fortuna

E o destino soberano.

Gira noite, gira espanto,

Gira o cavaleiro santo

Sobre as raias da razão...

Gira a Lua, que impera,

Girando sobre outra esfera,

Num giro insensato, a esmo,

E o giro, sobre si mesmo

(Princípio de furacão),

Faz despertar a Quimera,

Que, adormecida, espera

Nas entranhas do Dragão.

Gira Pentáculo, Espada,

Cálice e Bastão de Fogo!

Giram no místico Jogo

Reconquistando a estrada

Do Norte que nos conduz

Pelos caminhos do Tao,

Ao Castelo do Graal,

Na junção de treva e luz.

Gira manhã, gira Sol,

(O mundo é um caracol)

Gira de volta pro leito

Do ventre onde me estreito

Misturado a um brinquedo...

Onde não existe o medo,

Nem tristeza, nem engano,

Só um girassol de pano.

Rio, 2 a 7 de Julho de 2002

(Musicado pelo autor no mesmo ano)

Antonio Sciamarelli
Enviado por Antonio Sciamarelli em 08/06/2006
Código do texto: T171941