No velório, a quadrilha

Ataulfo nunca amou Joana

Era D'arc, nome composto

Para sua surpresa

Em agosto,

Foi trocada por Tereza,

Na incerteza, deixou-se por Miguel

Parecia coisa certa,

Homem fiel

Mas, Miguel não amava ninguém

Joana D'arc permanecera aquém

Ataulfo tinha câncer

Sua próstata retirada

Tereza, tornou-se enfermeira,

Permanecera sua criada

Dessa missão,

Joana fora poupada

Miguel, tácito, apático

Labutava de noite

Dormia de dia, pouco prático

Joana queria amor

Trocou-o por Cervantes,

Naturalmente, sem pudor

Os vizinhos a par de tudo

Comentavam, discutiam, acusavam

Casal pecaminoso, trio ardoroso

Moradores do bairro Jardim

Fornicavam, sorriam e gozavam, enfim...

Prazeres como alento,

Alheios aos olhares

Ataulfo não resistiu

Seu corpo frágil sucumbiu

Tereza, num suspiro se esvaiu

Gente conhecida velava

Joana, Cervantes e Miguel

Ao velório lá estavam

Unidos, separados, envolvidos

Na verdade, casos muito parecidos

Cumprimentaram, sentaram e se foram

Para espanto de todos, escárnio geral

Noutro dia o comentário:

Os três no funeral

Como pode, que indecência?

Onde está nossa moral?

Luxúria,

Volúpia,

Lascívia,

Que pecado capital!

*Baseado no poema: "A quadrilha" de Carlos Drummond de Andrade e no filme: "Dona Flor e seus 2 maridos"

Direção: Bruno Barreto (1977)

Marciano James
Enviado por Marciano James em 25/07/2009
Reeditado em 25/01/2011
Código do texto: T1718337
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