Poesia de minhas mãos.

Poesia de minhas mãos.

Sandra Ravanini

Poesia de minhas mãos, desarma o peito

e finca essas letras sem luz... sem querer

rompem barreiras do silêncio aceito,

nos conflitos dessa pequenez, se morrer

na negridão à irmã da luz sorrindo,

em qualquer dia que fui embora num domingo.

Poesia de minhas mãos, choro declamado

na voz infantil, à vera, entardecer

da criança que viu o pôr-do-sol chorando,

porque é a ama da luz, alvorecer

na luz que ama, tal flor em descampado,

noutro dia frio que fui embora no sábado.

Poesia de minhas mãos, ensaio a clareação

no canto da ave branca em senil cor,

suplicas em gotas de iluminação,

no orvalho que reflete o meu amor,

secando aos poucos o mel que me resta,

doutro dia que fui embora numa sexta.

Poesia de minhas mãos, espinhos ou florais

prematuros que antecipam o limiar,

se, lá no fim, dessas lareiras invernais

dentro de mim, consumindo esse quietar

latente, adiando o verso já sem tinta,

num fim de dia em que morri numa quinta.

22/05/2006