Poema-artesanato

Poema-artesanato

maria da graça almeida

Minha poesia é inglória,

vive em bancas incertas.

Do pódio e das vitórias,

traduz histórias discretas.

Nos dizeres, incontida,

minha poesia é de lua,

às vezes, reza vestida

às vezes, discursa nua.

Meu poema é artesanato.

E sai-me pronto das mãos.

Coso-o, com muito cuidado,

cirzo-o, sem distração.

Às vezes, vem das sucatas

de contas e velhos botões,

de renda e fitas baratas,

da fieira dos piões.

Que ressona atrás da porta,

tem os pêlos de um cão,

no final das linhas tortas

traz pena, paina, algodão.

Tem cores das violetas,

pose de pedra-sabão.

Nas asas da borboleta,

nem coloca os pés no chão.

O poema-artesanato

traz ponto-cruz, bordaduras.

É sempre um simples retrato

de uma notória figura.

maria da graça almeida
Enviado por maria da graça almeida em 08/06/2006
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