HOMEM COISIFICADO
poeta lesado entre lobos e canções de amor
bicho estranho ocupado demais para sentir
há um infinito bater de asas que o incomoda
quer ver a liberdade mas tem medo de voar
conhece o chão e nele oferta um maço de beijos
é elegante ladrão que chefia a dor alheia em grandes pacotes
menino idealizado em uma cega máquina de silêncio
espia a noite e deseja romper com a sombra
sem ter que se desfazer da capa que cobre a matéria
homenzinho constrói sua torre e esquece sempre a escada
é pequeno e acredita que um dia cresce acredita-se menino
o cotidiano bate à porta e não há uma mão que o acolha
a realidade bate o sonho sem piedade distribui uma amarga senha
sem entusiasmo e sem caninos o poeta recolhe seu desejo e sai
suspira por um mísero instante de beijo - de consolação
quedado reconhece nos olhos da morte sua redenção e sina
como sentenciado convicto ganha o corredor do distante porvir