HOMEM COISIFICADO

poeta lesado entre lobos e canções de amor

bicho estranho ocupado demais para sentir

há um infinito bater de asas que o incomoda

quer ver a liberdade mas tem medo de voar

conhece o chão e nele oferta um maço de beijos

é elegante ladrão que chefia a dor alheia em grandes pacotes

menino idealizado em uma cega máquina de silêncio

espia a noite e deseja romper com a sombra

sem ter que se desfazer da capa que cobre a matéria

homenzinho constrói sua torre e esquece sempre a escada

é pequeno e acredita que um dia cresce acredita-se menino

o cotidiano bate à porta e não há uma mão que o acolha

a realidade bate o sonho sem piedade distribui uma amarga senha

sem entusiasmo e sem caninos o poeta recolhe seu desejo e sai

suspira por um mísero instante de beijo - de consolação

quedado reconhece nos olhos da morte sua redenção e sina

como sentenciado convicto ganha o corredor do distante porvir

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 24/07/2009
Reeditado em 19/08/2013
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