Miolo amarelo

À sombra de uma macieira
Suzana feliz descansava.

À sombra de uma macieira
Suzana feliz descansava,
O gato amarelo surgiu.
Ele não quis ficar sozinho,
Enquanto Suzana viajava.

Ele não quis ficar sozinho,
Enquanto Suzana viajava.
Ela estava bem relaxada,
Acomodada sobre um lado,
Cabeça apoiada na mão...

Acomodada sobre um lado,
Cabeça apoiada na mão,
O cotovelo sobre a relva,
Ela se encontrou face à face
Com um miolinho amarelo.

Ela se encontrou face à face
Com a pequena margarida.
Logo as duas se entreolharam;
A flor a achou tão perfeita...
Tudo é sempre bom para a flor.

A flor a achou tão perfeita...
Tudo é sempre bom para a flor,
Mas Suzana nunca avistara
Uma flor em seu habitat:
Contemplou-a estupefata.

Uma flor em seu habitat!
Contemplou-a estupefata.
Simples, complicada, diversa,
Precisa, pareceu-lhe a flor,
A contemplá-la ali tranqüila.

Precisa, pareceu-lhe a flor,
A contemplá-la ali tranqüila.
Com o seu olhar amarelo.
Bem arranjadinha, ali estava
Extensa multidão dourada.

Bem arranjadinha, ali estava
Extensa multidão dourada.
Amarelo com cílios brancos
De um puro e alvíssimo mármore
Era o olho da margarida.

De um puro e alvíssimo mármore
Era o olho da margarida.
Ela corriqueira e comum:
Suzana encontrara um milagre.
Apanhou um talo qualquer.

Suzana encontrara um milagre.
Apanhou um talo qualquer,
E outro milagre encontrou.
A pequena haste translúcida,
Absoluta em perfeição.

A pequena haste translúcida,
Absoluta em perfeição.
Uma usina complicadíssima
Nessa forma e cor delicadas.
Transforma luz em alimento

Nessa forma e cor delicadas.
Transforma luz em alimento
Confusa olha de novo a flor
Confirma que ela é perfeita
Tal como deveria ser.

Confirma que ela é perfeita
Tal como deveria ser.
Mas Suzana era uma pintora...
Aparece diante dela
Uma pergunta inevitável.

Aparece diante dela
Uma pergunta inevitável.
A arte, o que é afinal?
Quem copia a natureza
Será totalmente impotente.

Quem copia a natureza
Será totalmente impotente
Já interpretá-la, é ridículo...
Mas quem não lhe dá atenção,
É alguém que de nada vale.

Mas quem não lhe dá atenção,
É alguém que de nada vale.
O que está faltando então,
Pergunta a si mesma perplexa,
O quê mais nos é necessário?

Pergunta a si mesma perplexa,
O quê mais nos é necessário?
-Ser a Margarida, ela grita.
Nós não somos nada constata;
Somos um monte de titica...

Nós não somos nada constata;
Somos um monte de titica...



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