Queria
Não me pergunte sobre o Futuro,
nem quando cairá o outro muro.
Eu queria ser poeta,
mas não profeta.
Queria saber usar a palavra seleta,
desenhar um poema com traço de esteta,
esquecer dessa vida abjeta
e da frieza concreta.
Não mais esperar pela carta correta
e pela certeza direta;
deixar esse permanente estado de alerta
e escapar da falsa gente esperta.
Queria ostentar um porte de atleta,
fingir uma alegria completa
e chorar de forma discreta.
E, se possível, manter a mente aberta
antes que o carrasco faça o laço
e grite: aperta!
No fim, noves-fora,
é o que resta.