Cânticos (insp. nos cânticos de Salomão)

É um trabalho em conjunto com Elane Tomich , não existem separados.

Canto Primeiro

Elane Tomich

Descansaste ao meio dia

em teu suor me banhei

sob vinhas, melodia

serei, depois te amarei.

Quem ama e canta minh'alma

a maldição abençoa

e planta em meu corpo a calma,

ao meu Rei minha prece ecoa

Em meus sonhares estreitos,

em mim, germinas trigais,

guardo vinho no meus peitos,

trigueira, camuflo ais.

Não me chames pela cor

do deserto em que te estiras

mudou -me a pele, o amor,

dá-me o nome de morena.

Meu rastro é o que retiras

do retiro dos teus pés,

em esculturas na areia.

Sou teu pouso, sou serena

ou, cobra que serpenteia

no bote que reativa

a luta do amor de arena.

Saio em seguimento

das pisadas dos rebanhos.

Ressuscito em pensamento

onde em me querer, repeles.

Sangras por todos os lanhos

de paixão, da minha pele.

Nossos tetos são ciprestes

onde, o pão, amasso e sovo

magia ao meu toque prestes,

presteza, que em ti revolvo.

Suga-me dos peitos, vinho,

teu bálsamo, em ti, eu sorvo

entre lãs de ovelha e sedas

um ninho, a mim, concedas.

No amor me desconcertas

no teu poder de envoltório.

sibila a canção, serpente

do meu desejo desertas.

Solta ao vento, num repente

em sopro persecutório,

meu sonho de proteção,

lá fora a areia escolta,

moreno amor, devoção.

Meus quadris, têm própria vida,

em dança moura, cigana.

Na barriga preenchida,

da submissão que emana,

pra sempre serei coroada

como aquela que deu frutos.

Sou quem comanda , vencida.

Chama-me a mim, tua amada,

fêmea, teu falso atributo!

Deliras orgias de outeiros

quando em vinho te afundas.

Não vejo teus companheiros

quando hiberna em ciúmes.

Não me chames de amiga,

não é o que o homem quer.

Deliras ó Rei, ao cume

tuas ordens, de me siga

faz-me sentir vagabunda,

chama-me tua mulher.

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Canto Segundo

Angélica T. Almstadter

10-06-04

Na florada dos trigais

Vejo tua cabeleira alourada

Dançando ao vento

Espargindo o nardo

Liberto das tuas ânsias

Qual gazela encantada galopas

Pelos campos de minh´alma silente

Tu cantiga que me encanta,

Louvor que me conquista

Flor de raro perfume,

Tu, a sela de alabastro,

Que me acolhe e liberta

Pelas torres de teu alvo marfim

Tu que passeias em mim

Vem e faz morada

Nos beirais do meu avarandado

Por ti me banho nos cântaros

Dourados, nas salinas frias

Por ti me ungo ao por do sol

E me entrego sem pudores

Aos lanhos prateados

Das muitas luas solitárias

Por ti, senhor dos meus cantares

Tanjo a lira que te toca quando sibila

Cânticos entoados em dissonantes acordes

Por ti, senhor nos meus altares

De amor vivificado,

Ergo minha taça transbordante

das vinhas nobres,

Diante de tua homilia me calo,

Para me embriagar da tua

Fala maestra.

A ti, senhor dos meus sonhos

Elevados em andores do madeiro puro

Soergo minha voz esmaecida

Só tu te achas assentado

No meu trono

Só tu serás, meu rei coroado

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Canto Terceiro

Angélica T. Almstadter

11-06-04

Salmodiei em teu louvor senhor

dos meus cânticos...

Em tua honra ergui ao céus

taças do néctar amoroso.

Ó amado que passeias com

os pés nús pelas terras úmidas dos vinhedos;

ouço teus passos afinados como

o som suave das harpas;

cervo dos passos musicados.

Na tarde que meu corpo gotejou

mirra para perfumar teus jardins

me fiz tua eterna amada...

e tu acolhido entre minhas taças

túrgidas adormeceu mansamente;

embriagado pelos jorro de mel

derramado das minhas entranhas...

Por ti amado meu, hei de adornar

de flores meu leito...hei de

banhar-me de leite e bálsamos aromáticos,

de enfeites de prata ornar meu pescoço e ricas pulseiras pelos braços...

Por ti amado meu, hei de

transbordar os cântaros com água

de laranjeiras, fazer colunas

de incenso as pés da nossa alcova,

e de lírios mais alvos que a neve,

engalanar nosso aposento.

A ti amado meu que tem fio de

ouro nos cabelos, o mar no olhar,

vento soprado nas falas misteriosas...

deito sândalos na poesia que deposito

aos teus pés...oração do meu amor...

Flui das tuas torres de marfim

aroma dos alecrins do campo...

dos teus mármores encrustrados

de fina pedraria acendem labaredas...

És em mim fonte de inspiração...

manancial de amor vivo.

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Canto Quarto

Elane Tomich...12/06

Canto a ti,

pastor dos meus sonhos

enfeitarei nossa tenda ,

com o perfume de mirra .

e me acharás entre tantas

teus olhos em negara venda.

Procuro-te , não estás aqui:

andarei pelas medinas

o meu sorriso tristonho,

sem ti,

tem jeito de inocente

sou quase inócua menina

magra, na carne que esmirra.

Do perigo dos olhares

com véus coloridos, me amparas

dos homens tal qual das feras

eu, tua pomba que arrulha

ferida por tua flecha

tombada aos teus cuidados,

A alma em que enleias, cura

sou o corpo desta mulher,

tua serva que procura

teu amor , de ervas ,banhado.

Depois , na hora da ceia,

no tapete, à lua cheia

a ti farei o profano

ofertório, quase insano

do supremo sacrifício.

Imolarei tua ovelha dileta

sem lágrimas no sacrifício.

Desta morte, saio viva

Que seja a carne seleta,

banhada a vinho e oliva.

Melhor que o aroma de início,

minha carne rubra e viva

ao teu sabor, mais propícia

Entrego-me sem pudores

Rei, senhor dos meus amores.

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 15/05/2005
Código do texto: T17154
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