CARTA A BOCAGE
Eu que amo a poesia quase entendo
como afogaste a alma em dor tamanha
na pele de um boémio te escondendo
iludindo uma plebe assaz tacanha
Demais sublime a tua poesia
de estro maior que o seu entendimento
caluniada foi por heresia
enorme se igualando ao teu tormento
Pudera ter-te ao tempo conhecido
que afagos mil de mãe eu te daria
e dos teus olhos brilho tão sofrido
com o fulgor dos meus alegraria
Poeta de talento entusiasta
porém de fado gémeo da má sorte
duma vida que foi para ti madrasta
te salvou piedosa a terna morte
E lá onde te encontras nesta hora
vingado da chacota e do ultrage
o derradeiro a rir és tu agora
de quem um dia riu de ti BOCAGE!
(In Antologia Poética da Associação Portuguesa de Poetas - Lisboa - 2005)