Cantos de Revolta [Parte I]

Olhos reluzentes de noite

Revolta quente de açoite

Pretos...

De brancos covardes de escuridão

Da mata às favelas em relentos

Grandes rebentos

De barracos em artimanhas de rebelião...

Facas,

Fuzis e estopim

De Iorubás e Bantus

A tez reluz em azul

O tremor em Branco!

Fiz das chibatas foices

No encalço de capitães-do-mato

Esguio e valente como Kamau...

Nunca fui mulato!

Preto!

Nos porões dos navios perseguido

Partido e dissimulado

Nas revoltas de povos da diáspora

Com sangue escorrendo em volta

Como lágrimas de mãe

e cães farejantes no percalço

Ameaças...

Escuro como a confusão e a noite

Brilha meu manto sob a lua

Sobre derrotas Claras

Sob meus pés de rua...

Diáspora contínua

Dispersa e confusa

Na luta, sob a lua, nas ruas

Faço cegos enxergarem no derradeiro grito de vitória

Sob glórias

Aumento minhas revoltas históricas

Sejam novas

Façam-se em memórias...

E como disse,

Preto reluzente em azul

De noite,

Di-áspora

Bantu!

Nos mares áridos do novo mundo

Em vida que se esfacela em ares

No absurdo

Em caça de mudos

Malê:

punho cerrado, murros!

Murros!

Socos que se fazem na escuridão

Rebelião aos trancos

em barrancos

de barracos que mais brancos trancam

Espancam e me dizem quem não-sou!

Diga-me quem sou

Enquanto rinho com doutores

Senhores em sonhos

Em seus risonhos leitos

Podres!

Sedentos em seu pr-ópio silêncio...

...

...

Digo que sou mais que Preto!