HOMEM DO MAR
Homem do mar boca de sal olhos de céu
alma indomada e revolta como o vento
sua morada é o horizonte que escolheu
seu leito é espuma entre lençóis de firmamento
O seu maior desejo é sempre ir mais além
dar voz e alma a um sonho mudo de conquista
ser muito mais do que um não se bastar de aquém
rasgar mil mares e mundos que só ele avista
Cada largada olhos de água a transbordar
coração vadio ansioso e inconstante
é fome de distância sede de amainar
a ansiedade que lhe rói a alma errante
E em cada porto uma sereia estonteante
de corpo embriagante como doce mosto
é paz e brasa de lareira confortante
onde derrete a ansiedade em fogo posto
Velho lobo do mar em terra a contragosto
é como peixe fora de água a estrebuchar
gaivota aprisionada pranto de desgosto
asa quebrada que perdeu o seu voar
(In Antologia Poética da Associação Portuguesa de Poetas/2005)