Quando
Quando há a certeza da incompreensão
e seus conflitos
Quando é impossível chegar-se próximo o bastante
E olhos nos olhos...se fitar
Quando tudo nos coloca em desalinho
No caminho da separação
Há que se acolher, os pensamentos aflitos
E toda a dor, recolhida, se juntar
Num só momento de reflexão
Quando a ferida, de todo se purgar
E ao recompor-se, causar certo desconforto
Inquietando a alma, atiçando o coração
Há de vir uma esperança se instalar
Tal qual a nau, que finalmente encontra o porto
Desembarcando a carga dolorida da desilusão!
Quando o peso insustentável do cansaço
Vergar impunemente a alma, e a fizer delirar
Quando não houver mais um só lamento
Há de surgir um terno abraço
Ocupando todo espaço que restar
No vazio que envolveu o pensamento
Quando por fim, a luta terminar
Quando a chama do ideal, se apagar
Nada mais restará da insensatez
Nem uma ilusão a se buscar
Nenhum paradigma sobreviverá
É chegada, finalmente, a lucidez
Quando a noite engolir os sonhos
E com seu véu, a mente entorpecer
Quando tudo mergulhar na escuridão
Há de surgir um olhar tristonho
Que expresse o ato de reconhecer
A dor suprema desta solidão
E quando tudo for apenas fato
Já não houver, o que impeça a expressão
Quando a realidade se vestir do imponderável
Há de cair por terra o aparato
Que insensato, ludibriava o coração
E há de surgir, inevitável
O despertar da alma
Que independente de qualquer contato
Contagia tudo com profunda emoção
Priscila de Loureiro Coelho